Serviço Público, não precisam de agradecer.

Hoje a minha querida prima teve um bebé. Quando fui visitá-la à maternidade,  assomei
a minha cabecita na porta do quarto e mandei-lhe um tchau. Ela virou-se o
pescoço para mim, numa posição esquisitíssima tipo exorcista, e penso ter
ouvido “Porca e P..” entre outras, mas não tenho a certeza. 
Desculpei-me: “Ouve lá, querias mesmo que te dissesse a verdade?que querias que fizesse??” 
Não se conta a pré-mamãs o que se passa durante o trabalho
de parto 🙁 Não se conta.

Mas eu vou contar porque todos os meus amigos sabem que sou boca podre e que não me podem contar segredos, (nem os meus eu guardo quanto mais). Continuando, isto do parto tem que ser segredo entre as mulheres senão a espécie
humana extingue-se. Descobri, com 32 anos, (tenho reparado que as descobertas que fiz nos últimos anos
são tão vergonhosas que nem sei como é que alguém no seu perfeito juízo casou
comigo
), que quando se fala de dilatação de  2 dedos, 6 dedos, 10 dedos, não se está a falar numa vagina a
abrir-se… Ela realmente está a abrir-se, mas a dor da dilatação e dos dedos é doutra coisa.

Quando se fala de dilatação e aberturas de 10 dedos, estão a referir-se  a uns mega ossos ou lá o que é aquilo dentro
do útero, uma espécie de manípulos do pinball (epá, que linda metáfora
que inventei agora), que se abrem para 
o bebé nascer. Porque se os ossos estivessem já abertos o bebé escorregava e caía no chão (e aleijava-se).
Atenção, não me interpretem mal, a vagina realmente continua lá aberta, e do mais aberta que
possam imaginar. Aliás,  está
inacreditavelmente escaqueirada, parece impossível voltar a recompor-se e a ser
uma Sra. Vagina, dizem que sim (o meu colega de sala diz que não. Olá
Sandra, tudo bem?)  Mas essa é a parte que
se aguenta perfeitamente, mesmo quando rasga até ao rabo.
Agora tenham paciência, os ossos a abrirem na barriga é que e uma coisa
que eu ainda estou para descobrir como é que as mulheres voltam a ser gente
depois daquilo.
O engraçado, é que eu nem passei por isso (smile) Não dilatei
nadinha, nem 1 milímetro.  Posso ser uma
chiba, quadrilheira, admito, mas há que reconhecer que o meu
corpo sabe bem o que faz. 
O meu esperto corpo fechou-se em copas (ao contrário da ocorrência 9
meses antes). Mas quais dedinhos de dilatação, qual carapuça!  Os médicos desistiram dos
ossos tronchudos e fizeram-me cesariana. Quando me avisaram, comecei a rir-me toda por dentro e das outras mulheres vaginentas dilaceradas, que lá continuam a
espernear.
Fui preparada para a cesariana. Mal entrei no bloco, caí em
mim, percebi que ia ser operada e vieram-me as lágrimas aos olhos, fiquei
com diarreia e acreditei piamente que podia falecer. Comecei a tremer tanto de
medo que levei uma lambada da anestesista , com o consentimento da minha sogra enfermeira-parteira,
para eu estar quieta e me dar a epidural. Pedi para me amarrarem as mãos porque
tive medo de não me conseguir controlar e cometer uma loucura.
Entretanto comecei a rezar um Pai-Nosso mas tive que parar a
meio porque já estava me estava a baralhar com a Ladaínha da Nossa Senhora do
Rosário. Desisti de pensar e disse simplesmente : “Meu Deus,  em toda a tua misericórdia, ajuda-me, prometo
que não me volto a meter numa destas, terei um único filho e vou ser muito
feliz”.
Depois começaram a remexer-me as entranhas e a puxar a puxar,
eu a sentir tudo ou pelo menos assim parecia e eu virei-me outra vez para Deus
e disse-Lhe : “Pronto, ok, já percebi,  prometo que nunca mais vou fornicar, nem sequer
em pensamento”.
Depois saiu o Francisco. Não pude abraçá-lo porque ainda estava com
os braços amarrados com as braçadeiras e ninguém mas tirou. (Foi um bocadinho triste,
porque só lhe consegui beijar um bocadinho da cabeça e depois do rabo).
Entretanto lembrei-me das promessas feitas. D´OH! Voltei a
fazer outra promessa, prometi que retirava todas as promessas anteriores, com
efeitos retroactivos – por terem sido feitas num momento insano e
em compensação ia a Fátima rezar aos Pastorinhos e pôr uma velinha à Nossa
Senhora na Capela das Apariçoes.
Moral da história: para mim, tudo acabou em bem: ele nasceu
lindo, a minha vagina continua um espanto, já fui a Fátima (a caminho do
estabelecimento prisional de Leiria),e fornico de consciência tranquila.
Agora partos naturais?? Eu estive 27 horas numa maternidade
com outras a parirem de partos naturais e Meu Deus, os gritos lancinantes mesmo
vindos das entranhas, um som absolutamente intraduzível. CHIÇA!!!!! F….!! ! Ó
MEU DEUS QUE CORAGEM, QUE LOUCURA!!!, QUE VAGINAS!! QUE HORROR PURO!!
Foi isto que omiti à minha prima. Descobriu por ela. E fiz
muito bem.

Querida Zélia, sabes que este blogue é meramente recreativo 😉 espero que tenhas uma hora pequenina no final de Dezembro! 
Partilha-me toda, eu gosto

5 comentários em “Serviço Público, não precisam de agradecer.

  1. Salsicha

    De Janeiro a Setembro são nove meses de gestação. Este post esperou nove meses para ver a luz do dia.

    E como qualquer parto difícil nasceu de madrugada, às 02:32.

    Felizmente nasceu bem, mesmo com gritos e sofrimento.

    Agora deixemos a mãe e o bebé descansar.

    Ah, já agora, dá os meus parabéns à tua prima…

  2. Uma descrição assustadora.
    Tenho uma amiga que teve um bebé e tem também um sentido de humor incrível, mas no caso dela foi diferente, não lhe doeu assim tanto o parto – teve foi de se levantar antes e durante, agarrando na barriga e no meio da dilatação para chamar a enfermeira para a parturiente ao lado – o que ela disse que foi horrivelmente doloroso foi amamentar.

  3. Eu tive dois belos partos vaginais, não me pude conter nas gargalhadas qd li o teu post. O q vale e q acabamos por esquecer a dimensão da dor ou ninguém tinha mais do que um.

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