Num desses saudosos verões em que passei 15 dias a vegetar na terra da minha avó, em Mafra, tive um vislumbre do que é um casamento saudável.
A minha avó estava a coser umas peúgas do meu avô, que tinham um buraco magistral no dedo grande do pé.
O meu avô estava ao pé dela, a ver televisão.
De repente ele saiu do torpor macilento no qual estava há já quase meia-hora para, simplesmente, deitar um olho ao trabalho ingrato da minha avó e dizer:
– Olha lá, não vês que esse nó está mal feito?
Com um olhar a chispar faúlhas, ela retirou a agulha, dobrou as 2 peúgas inacabadas numa só, e, de uma assentada, atirou-lhe com elas no meio dos olhos sussurando:
– Nó mal feito dei eu há já quase 50 anos.
E foi-se embora, deixando o meu avô a rir-se que nem um perdido.
O casamento saudável, repleto de amor? Está nestas pequenas coisas..Num retirar estratégico da agulha..Hajam casamentos assim, fogosos, mas consentâneos no respeito devido.
E o que eu me ri, Meu Deus!