Polícia Judiciária, essa grande corporação

Hoje tive de escala na Polícia Judiciária.

Eu gosto muito de estar escalada neste sítio porque:

– são só homens amistosos
– desejosos de agradarem às estagiárias
– recebo à volta de 100 €
– regra geral fico sentada a ver televisão e a ler o jornal
– e faço 3 ou 4 interrogatórios divertidos

Hoje fiz um em que..por favor, acompanhem:

Antes de entrar para a sala do interrogatório, a mãe do miúdo, que o havia acompanhado, agarra-se às minhas mangas e chora, chora, lavada em ranho amarelado:

“Nós não sabemos pq é que ele está aqui! Só se foi por causa de uma mota, dizem que a mota dele andou em asssaltos, mas ele já me disse “ó mãe não fui eu”, e eu acredito, olhe é que não mente, só fuma chamôn, e só foi a tribunal por ter sido apanhado sem carta, ai ele é tão bonzinho, nunca me bateu!”

Lá fui eu, extremamente comovida porque o miúdo nunca havia levantado a mão contra a progenitora..
O miúdo tinha 18 anos. Não sabia ler, mas tinha ido até ao 5º ano. (1º mistério indecifrável)

Chamava-se Alberto mas só respondia pelo nome de “Olhinhos”. ( Pelo nº de crimes de furto que cometeu mais deveria ser ” Beto Mãozinhas”).

O Sr Agente perguntou:
“Conheces o Luís Silva?”
“Não”

“Não conheces? Mas estavas lá em baixo na rua a falar com ele!”
“Não conheço nenhum Luís”

Estiveram nisto 5 minutos. Até que o miúdo arrota:
“Não estive a falar com nenhum Luís”. Estava a falar era com o “Pintassilgo”. Ahhh, como é que nós não adivinhamos? (2º mistério)

Afinal de contas, não tinha nada a ver com motas, mas sim com furtos numa arrecadação na Buraca. Eu fiquei sem palavras. Juro que fiquei literalmente boquiaberta com o rol de material apreendido:

– dossiês de várias cores
– cadeira de praia
– teclado (estragado)
-estojo com lápis de cor
– tuperawares

Não sei quem foi mais idiota. Os palermas que furtaram isto, ou o dono unhas-de-fome que se deu ao trabalho de apresentar queixa.

Ao fim de 15 minutos o “Mãozinhas” foi para casa. Provavelmente na mota roubada.
Eu apanhei o comboio em Entrecampos.

Pobre, mas honrada.

Partilha-me toda, eu gosto

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