Sempre tive pavor a palhaços, uma vez na festa de Natal da EDP um palhaço com cara de quisto pediu uma criança para ir ao palco. Sempre fui hiper-envergonhada, ao contrário dos meus provincianos pais que, entusiasmados com o convite me atiraram das escadas abaixo pelo que eu, cheia de ranho e chorar convulsivamente me vi no meio do meu pior pesadelo.
Até que claro os palhaços, que embora não o pareçam são humanos (mas afianço que já vi jacarés menos assustadores) se fartaram de mim e me recambiaram de volta para o meu lugar. Lá fui contente, até me deparar com a cara sanguinária dos meus pais e passou-me logo a vontade de rir.
Isto para dizer que sempre tive horror a palhaços, a cabeçudos do Entrudo, ao pessoal dos ranchos, enfim a tudo o que cheire a máscara exagerada.
Mas, não obstante esta fobia, lembro-me perfeitamente que quando o meu pai se mascarava de Pai Natal e eu, inocentemente, pensava que era mesmo alguém que se tinha dado ao trabalho de viajar da Lapónia a Queluz para me dar umas prendas apesar de,
dia sim dia sim fazer estragos em tudo o que fosse humanamente possível, e ter sido ameaçada de escola de correcção durante anos a fio,
(não é suposto o Pai Natal estar a par disto? Tipo relatórios da Comissão de Menores? Meu Deus fui tão ingénua)
enfim, quando eu via o Pai Natal lança-me aos pés dele, cobria-o de beijos, arrastava-o por um braço e obrigava-o a sentar no sofá, isto enquanto sacava de dentro de uma mochila da Hello Kitty pacotinhos de leite com chocolate e merendas de fiambre e lhe oferecia altruistamente, sempre à espera do retorno.
Pergunto-me eu agora,2 décadas depois:
Não era suposto eu correr velozmente na direcção oposta sempre que via um homem com uma manta vermelha, com papel higiénico a fazer de barba (ainda não havia a loja dos chineses), a calçar o 44, e com uma cervejita na mão a entrar pela minha porta dentro?
Resposta: claro que não, ele vinha para me dar presentes! Até podia ser um chimpazé octogenário, agressivo e vestido de mulher, eu haveria sempre de o reconfortar com bons tremoços e água-pé, miminhos para quem tinha vindo de tão longe para me agraciar com bons brinquedos.
Enfim, a ganância sobrepunha-se ao temor reverencial a coisas estranhas, e em situações nas quais o meu instinto me diria habitulamente a piscar “Foge” “Foge”, naquela altura gritava “vende-te” “vende-te” (se te venderes para o ano há mais!).
Criança mais deplorável.
Identifico-me perfeitamente com a tua fobia…também sempre achei palhaços no minimo sinistros. De qq forma a tua estória fez-me lembrar um infeliz acontecimento da minha infancia que meteu uma metade de pescada congelada e uma audiência de 200 pessoas a rir-se da minha cara envergonhada…um dia conto 😉
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