O meu enteado chega a casa cabisbaixo. O tal querubim loiro de que já falei
infra.
infra.
Vem de um fim-de-semana com a mãe e, intrigada, pergunto-lhe o que se passa. Tem
relutância em dizer. Percebo que envolve algum castigo e sinto pena, porque ele
é mesmo uma criança muito doce e ingénua, e quem o conhece subscreve de
certeza. Atrevo-me até a dizer que é o menino mais delicado e ternurento que
conheço.
relutância em dizer. Percebo que envolve algum castigo e sinto pena, porque ele
é mesmo uma criança muito doce e ingénua, e quem o conhece subscreve de
certeza. Atrevo-me até a dizer que é o menino mais delicado e ternurento que
conheço.
“Podes dizer-me o que se passou….” – incentivo.
Ele fita o chão, as beiças trémulas. Vejo-o chorar mas percebo que não quer falar e
até eu, que sou um javali selvagem em matéria de discrição e respeito pelo
silêncio dos outros, deixo-o em paz.
até eu, que sou um javali selvagem em matéria de discrição e respeito pelo
silêncio dos outros, deixo-o em paz.
O pai entra na sala. olha para ele com ar reprovador. A seguir, também me fita, com
ar de poucos amigos. (Alerta medo)
ar de poucos amigos. (Alerta medo)
-“A mãe deste tirou-lhe o tablet 1 mês”.
Eu:”coitadinho, que horror!!” – enquanto na realidade penso que o horror vai ser o facto de eu não poder ver Dr Phil à noite para levar com a Chica Vampiro.
-“ Coitadinho??! Diz lá o que fizeste Afonso ” – ordena o pai.
E o miúdo na beirinha do sofá, as lágrimas a molharem-lhe a t-shirt.
-” Então a mãe deste gajo mando-o ir para a mesa jantar e ele vira-se para ela:
-“Olhá lá mãe, tu a partir de hoje chamas-me PICHA D´AÇO, ouviste? Não é
Afonsinho, é PICHA D´AÇO! ”
Afonsinho, é PICHA D´AÇO! ”
Eu estremeci. o Picha d´Aço era um mito do meu liceu. Adoro, esteve escrito na
parede da Igreja de Queluz anos a fio. Confesso que utilizo várias vezes essa
expressão porque a acho francamente boa…
parede da Igreja de Queluz anos a fio. Confesso que utilizo várias vezes essa
expressão porque a acho francamente boa…
O Pedro olhava para mim. Eu aconcheguei as mamas dentro do soutien numa sofrível
manobra de diversão. Pedro não desviou o olhar.
manobra de diversão. Pedro não desviou o olhar.
Ri amareladamente: “Pagava para ser mosca, tu não?”
Oiço um seco – “Não.”
Senti-me patega. Até dias mais tarde ter lido no Expresso “Estudo comprova que dizer asneiras faz bem à saúde” (http://expresso.sapo.pt/queroestudarmelhor/qemnoticias/estudo-comprova-que-dizer-asneiras-faz-bem-a-saude=f869735)
Momento de Glória. Esta madrasta é do mais benéfico para a saúde mental que qualquer
enteado podia almejar. Obrigada, muito obrigada.
enteado podia almejar. Obrigada, muito obrigada.
Partilha-me toda, eu gosto