Com sorte era da Páscoa

Torre de Belém. 18h.

O rio vaza e avistam-se degraus imundos.
Mas não é tudo.

Uma ratazana gigante, completamente putrefacta e da qual até tive alguma pena, jaz de pernas para o ar com a língua de fora.

Eu observo-a com algum interesse mórbido, agrada-me aquela imobilidade final, o fechar de um ciclo. Estou como que suspensa, num misto de compreensão e assentimento.

De repente aparece nem sei bem de onde uma miudinha gorducha com uns tótós, tão afogueada que até se lhe acarminou as beiças e queda-se frente a frente com o animal.
Observa-o ainda com mais interesse do que eu e grita para trás:

– OH MÃE, OLHA, UM COELHINHO!! E aponta para o bicho recamboleando o tornozelo bojudo.

PORRA! UM COELHINHO?!

A ingenuidade das crianças tem, efectivamente, que ser delimitada nem que seja à chapadona. Se fosse minha filha era corrida dali ao pontapé até aprender a diferença entre um coelhinho e uma ratazana de esgoto.

Qualquer dia peço a um miúdo para me ir comprar um quilo de azeitonas e ele traz-me dois pares de peúgas de lã parda, com sorte ainda com um pé cheio de cascaria calosa lá dentro.

Adultos do meu país: não facilitem, ok?

Partilha-me toda, eu gosto

5 comentários em “Com sorte era da Páscoa

  1. ou então trás mesmo caganitas de cabra… Que estavas a fazer a tal hora nesse sítio heim? 😉 A namorar?

    E observar uma ratazana ao detalhe de lhe veres as entranhas… Era mesmo aquilo de mais interessante que tinhas para fazer?

  2. A culpa é da TV! Se eles vissem as porcarias que nós víamos, hj saberiam o que era uma ratazana…
    Hj em dia só vêem coisas filtradas e censuradas, é normal que não saibam nada de nada! :

  3. Sugiro que coloquem uma das protagonistas dos Morangos com Açúcar a passear-se pela série com uma ratazana debaixo do braço.
    Susana, pode não ser só ignorância. Tens que admitir a hipótese de haver criancinha estúpidas. Não são todas bonitas e inteligentes. Há com cada camafeu pueril arraçado de calhau que… Vai lá vai!

  4. Eu dava-lhe era com a ratazana nas fuças até ela conseguir soletrara o nome do bicho, EM LATIM!

    (obviamente estou a reinar, há que respeitar o óbito da bicha…)

  5. In nomeni patri et fili et spiritus sancti.

    Impunha-se neste momento um trocadilho com a expressão Habemos Papa mas, por respeito para com os leitores e proprietária do blog, fica só a insinuação.

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