Recebi ontem um arguido.
Mulato, um verdadeiro armário, vinha com a cara feita num bolo, repleta de hematomas e nódoas negras.
Sentou-se à minha frente a um metro de mim.
Instintivamente, segurei no telefone portátil pronta a desferir-lhe um golpe mortal caso tivesse a infeliz ideia de me agredir e tentei descalçar uma das botas para me melhor colocar em debandada.
Muito calmo, esteve 10 minutos ininterruptos a elucidar-me sob as suas anteriores condenações e levantou-se para ir embora.
Para quebrar o gelo, eu, sempre com as minhas brilhantes e oportunas intervenções, aponto para as equimoses e digo “então adeus e até ao dia julgamento, não se meta é em mais confusões!”
Ele estaca e olha para mim.
Um arrepio percorre-me e penso interiormente que, daí a um minuto, se não falecer, ficarei pelo menos comatosa no Amadora-Sintra.
“Confusões?” – inquire
Esboço o famigerado sorriso icterício.
“Sou diabético há muitos anos. Ultimamente, quando vou pôr os meus miúdos ao infantário ou vamos brincar para o jardim, fico sem força e desmaio.
No Sábado estava na Igreja à espera da minha filha que ia a sair da catequese e bati na esquina de um banco. Levei 12 pontos”.
diabetes?
catequese?
filha?
Igreja?
Com os olhos marejados, só não o levei para minha casa, deitei-o no sofá , calcei-lhe uns peuguinhos da Serra da Estrela, enrolei-o num cobertor de lã caprina e depositei-lhe um beijo amoroso na testa
porque simplesmente não calhou.
Senegalês escoriado – bhacccc
Senegalês religioso e diabético – quero. adoro.
Foi a primeira vez que ca vim e confesso que estou rendida! Ja li para tras ate Outubro de 2006 e so nao leio mais porque enfim, tenho de trabalhar… mas queria deixar os meus parabens! O que eu ja me ri sozinha!
Voltarei de certeza!
Hahaha, como transformar uma história banal num texto para fazer rir!
(quem me dera ter este talento)
Ahahaha!
Susana, cá para mim não é preconceito. É o inevitável temer pela vida. Sinto exactamente o mesmo quando me aparece um oficioso pela frente. Despeço-me dos meus pais, do meu irmão, do piriquito e do mundo.
Todos os dias rezo à noite para que, no dia seguinte, não me apareça mais nenhum.
Há quem diga que faz parte de um plano diabólico para nos redimirmos das vidas passadas. Teremos vertido azeite a ferver sobre alguém?
Eu vou refrasear a frase proferida pelo arguido, mas agora em bom portugues…
Eu estava trocando uns estupefacientes por dinheiro, à porta da igreja com os miudos que andam ali numa aula religiosa qualquer, quando de repente aprece a bofia e eu tive sacar da minha gun para me defender, no meio da confusão houve uma bala que me passou de raspão e fez-me 12 pontos na cabeça.
Ja viste do que te safaste salcicha?
Fica sabendo que, ultimamente, sempre que passo por um cigano, lembro-me de ti.
Sentimentos nobres…
Não faz 30 min que estava a jantar e pensei: será que os indivíduos de raça negra tb têm diabetes?
Chego aqui (ainda a arrotar da generosa taça de morangos com açucar) e vejo este post.
Obrigado Susana! 🙂
Lindo. Li a parte da diabetes com cara de quem chupou um limão, tipo “ouchy, bay-bee!!!”. Muito bom!
E isso não foi provocado pelos gases provenientes da tua bota descalçada? Fica a dúvida no ar…
get real! 😀
Vim aqui parar pk foste uma das noemadas dos tomates!!!
O que eu me riiiiiiii desde que li um a um dos teus posts!
O meu namorado tb está em direito e os amigos contam assim umas historinhas, mas estas….sou eu quem lhes vai contar!!!
Vou continuar a espreitar!!!
cuidado com a violaçao grosseira do segredo profissional. sobretudo qd ja se mostrou a foto no site e se da mt detalhe. as vezes a leveza de espirito e a tonteria paga-se bastante caro.
Não me digas que mostrei a foto do diabético?! sempre sou cá uma boca rota.
Estava a ver que deixavas passar esta!