Condução sem carta. Dá para acreditar?

E o insólito aconteceu.

Ontem estava particularmente bem disposta. Tinha um julgamento de manhã, mas uma coisa ligeirinha, sem dramas.

Lá fui eu para o tribunal, a assobiar contente com o casaco pendurado ao ombro e óculos de sol a enfrentar confiante o mundo.

Começa a audiência, o juiz fala, o procurador, fala, e a Susana começa a discursar. Não sou de intrigas nem falsas modéstias, mas quando estou bem disposta falo e até falo bem.

Ainda a procissão ia no adro, e eu, inflamada exaltava as virtudes do meliante que ali estava, quando este, subitamente, se agarra ao peito e cai no chão.

Sem saber muito bem o que fazer, e até porque não sou de deixar coisas a meio, ainda largo duas ou três palavritas sumidas. Mas depois de o ver estendido no chão a minha sensibilidade feminina, vulgo 6º sentido, manifestou-se e aí eu achei por bem calar-me.

De qualquer forma, também não me parece que naquela altura alguém me estivesse a ouvir, especialmente a juíza que se tinha levantado e levado a mão à cabeça desesperada e a procuradora que fugiu como um tiro para o segundo piso, onde decorria um julgamento de vários médicos.

Depois, lá vem o INEM, leva o meu arguido e eu fico na sala, sozinha, sentada numa cadeira ao canto

ridícula na toga xs que não me serve, a olhar para a biqueira da bota e a pensar para com os meus botões que tudo mas tudo me acontece.

Felizmente o arguido sobreviveu ao ataque cardíaco e foi internado.

Agora a questão que se coloca:
Quem é que lhe vai comunicar a sentença?
CREDO, EU NÃO!

ps- para os mais incrédulos, é favor confirmar na secretaria dos juízos criminais de lisboa

Partilha-me toda, eu gosto

19 comentários em “Condução sem carta. Dá para acreditar?

  1. Ó meu deus!!!!
    Já me aconteceu uma ou outra coisa estranha em julgamento (principalmente os que decorriam durante as escalas), agora isto é demais… bolas..!

  2. Tens a certeza que ele não fingiu só para não ouvir a sentença? Se formos a ver ter um ataque cardiago e ficar-se bem ou ouvir que se vai estar não sei quantos anos na prisão, não sei o que é melhor.

    Pedro Ferreira

  3. Se calhar o teu discuro não estava a agradar ao arguido, que viu a vida a andar para trás!

    samoucoaorubro.blogspot.com/

  4. O que o stress faz às pessoas 😐
    Bem, quanto à comunicação da sentença: podem sempre aproveitar que o homem está no hospital para lhe comunicarem o desfecho… ao menos sempre está mais perto de médicos e respectivo aparato de reanimação…

  5. eu já tive uma cigana a “incorporar”… afinal era só um ataque de hipilépsia. giro, giro foi ver os juizes a fugirem, a funcionária desorientada, os 34923 familiares da cigana de volta dela, os advogados a tentarem chegar à porta e ninguem se lembrar de chamar o INEM. Como eu te entendo…

  6. Eu cá usaria isso para pedir justiça, aquando da repetição das alegações finais…
    Mas isso sou eu que sou uma cabra insensível e que gosto de impressionar os juizes… : )))

  7. Tu uma advogada! Quem diria! Quanto orgulho!!! Bem me parecia que os treinos que fazias de leitura de “Uma aventura” serviam para alguma coisa! Enquanto isso eu lia o Patinhas à caça de tesouros… E agora sou um desgraçado de um designer! 😛

    A minha mãe bem preferia que fosse médico… mas pronto.

  8. Ainda assim não me parece que ganhes o prémio de julgamentos insólitos.

    Há uns anos atrás, no palácio, corria um julgamento em que eram testemunhas marido e mulher.
    Já na sala de testemunhas o marido morre, presumo que de ataque de identica natureza.

    Ora, a meretissima, ao invés de terminar de imediato, encerrar a sessão…nãaaaaaaaa
    Chamou-se o Delegado para vir levantar o corpo e obrigou-se a mulher, cuja cara metade jazia morta no chão frio de mármore, a testemunhar, porque não existia fundamento para adiar.
    Isto aconteceu de facto.

    Belos colegas, que confrontados com uma cena destas não abandonaram de imediato o local…
    Era o que eu faria.

  9. O quê?!? Então com um discurso tão inflamado e não conseguiste que ele fosse absolvido? Francamente, Susana…

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