O assédio

Eu tenho um fã.

Não, mais uma vez não cucuritem os galos, não zurrem os burros, não chiem os ratos, não crocitem os corvos, nem guinchem os porcos (chiu Nuno, é uma ordem!).

O fã que me assedia diariamente com o olhar lânguido e língua estrategicamente pendente no lado esquerdo da boca é:

– o senhor do Bar da Universidade
– aflitivamente baixo (só chega até à prateleira dos salgados)
– tem uma dentadura assaz duvidosa (vislumbrei até hoje 4 dentes, 3 dos quais em estado mórbido de decomposição, e com umas gengivas castanho pálido muito intrigantes).
– 2 faixas etárias acima, vulgo velho como um escroto (44/52)

e por fim, e à laia de conclusão:

– tem um ligeiro atraso. Não, minto,

é simplesmente estúpido, aliado a um abissal atraso.

Ontem fui jantar ao bar.

Detectei logo os sinais de excitação físca, perfeitamente manifestos mas que preferi ignorar pois, afinal de contas, ia jantar e não queria estar com o estômago revolvido pela imagem daquele homem nu.

Ele, suando em bica e sorrindo com aqueles dentinhos apodrecidos, franzindo o sobrolho com o seu ar sensual e que me fez lembrar o Homem Elefante,

fez-me sinal para aproximar e, em jeito de confidência, sussurou-me que, por ser para mim, me ia “fazer um jeitinho”.

Rezei para que ele não dispusesse do seu órgão sexual em plena cantina pensando que me deleitaria, mas, pelos vistos, a sua ideia era mesmo ajudar-me no que concernia à minha refeição.

Eu tinha pedido e pago uma tosta,

mas logo o imaginei a trazer-me 1 prato de strogonoff e batatinhas, com um sumo de laranja natural e uma taça de gelatina, e eventualmente com uma dose de arroz.

Ele vai para a copa, e quando sai, com um ar deveras suspeito, escondendo-se do resto dos colegas e ludibriando as câmaras de vigilância,

dá-me já um saco cheio,

e antes de eu o abrir, confidencia-me lascivamente:

“Em vez de 2 guardanapinhos..pus aqui 4!! Só para ser para a menina…”.

E juro que quase me pareceu que me soprou um beijo, mas entretanto eu já tinha fugido a uma tal rotação que ainda estava ele a dizer “até amanhã princesa” e já a porta do bar tinha batido.

Pulha! Frustar-me as expectativas alimentícias daquela maneira.. A tosta soube-me a nada, ainda por cima acorriam-me imagens do anãozito nu.

Não sei para quando a recuperação, mas só espero não desenvolver traumas sexuais relacionados com a comida.

Partilha-me toda, eu gosto

2 comentários em “O assédio

  1. LOLOL Sempre tiveste dessas alegrias na vida. Se formos cronologicamente ver, temos tu com 10 anos a receber elogios do tarado da frutaria, do idiota do instrutor de condução, do obreiro. . . ui se falo nao me calo!

  2. Comigo passou-se algo verosimilhante. Também no bar da faculdade. Mas com um homem, o que torna a situação ainda mais embaraçosa.
    Dizia que morava na margem sul. A vitrina estava exposta com croissants com chocolate, folhados de salsicha e sandes de atum. Eram 23h50. O bar fechava à meia-noite. Eu e os meus camaradas fomos cravar a comida de borla: “ó chefe… vai deitar isso fora?”.
    Ele lá cedeu e deu-nos alguns alimentos. Isto senão quando dá a volta à bancada para ir varrer o chão, visto que tinha de apanhar o barco no Cais do Sodré para o Barreiro dali a uns instantes, passa por mim, quase que me agarra no colarinho e me puxa, com a vassoura na mão, e exclama, ávido de sexo homosexual: “tu és maroooooto!” enquanto levantava e baixava as sobrancelhas.
    Pousei o que estava a deglutir e sai a correr.
    Os meus colegas ficaram encostados ao bar a rir, com os cantos da boca pejados de maionese.

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