Um dia destes fui eu alegre e saltitante para um exame, desta feita incidindo sobre o maravilhoso mundo processo-criminal.
Atrás de mim arrasto (como todos os outros milhares de juristas enloquecidos), um troley gigante, atafulhado de material de primeira (sim, obviamente era de consulta)
trazendo dezenas de livros e mais umas centenas de folhas dispersas porque apesar e ter tido um ano para as encadernar, é óbvio que nunca levantei o rabo alapado para o fazer.
Um minuto antes do exame, abro embevecida o meu adorado troley, quando fico roxa e com uns laivos de azul,
quando me apercebo que me esqueci em cima da cama do meu código penal e do meu código de processo penal,
que me acompanham desde ha alguns anos e nos quais sempre depositei todas as minhas esperanças, vulgo cábulas e anotações técnicas.
“Alguém tem um código penal e um código de processo penal que possa emprestar?” – perguntei eu em voz sumida, já a deslizar pela cadeira abaixo prestes a enfiar-me debaixo de um taco do soalho.
As 40 cabeças que estavam naquela sala se viraram imediatamente na minha direcção, com um misto de nojo, vingança, alegria e incredulidade.
Ninguém respondeu, até que houve um rapaz caridoso que estava ao meu lado e que lá me emprestou uma edição de bolso do código penal.
Basicamente fiz o exame a meias com o tal rapaz e cada vez que um olhava para o outro desatávamos a rir, porque para além do exame ser surreal, só viamos pessoas às portas da morte, com apoplexias e a baterem literalmente com a cabeça nas mesas!! (Eu vi, a gaja deve ter saído dali toda negrinha!)
E lá estavamos nós, a partilharmos os dois um código em formato micra, sem percebermos um cu daquilo mas suficientemente lúcidos para alcançarmos que a vida é para aproveitar, somos novos, para o ano ha mais, e meu Deus, que gente doida existe neste mundo (EU INCLUÍDA)!