Nota prévia: enquanto escrevo, o puto degladia-se consigo próprio aqui na cama e vejo pernas e braços e peúgas pelo ar, vou tentar abstrair-me mas juro que é uma tarefa quase hercúlea.
O que me traz aqui hoje foi o facto de eu, ao ser mãe, descobri que pura e simplesmente não consigo lidar com introdução de objectos em cavidades e orifícios. (Que não sejam meus, note-se).
Na realidade, ainda na maternidade, quando que me disseram para limpar as orelhas ao miúdo com um cotonete, eu ia simplesmente desmaiando. Voltaram a repetir-me a ordem, porque, pelo que eu percebi, só davam alta às mães minimamente preparadas para o ser.
Voltei a agarrar no cotonete, aproximei-me daquelas orelhinhas de ratinho e de repente senti o chão a fugir-me. Sentei-me numa cadeira e disse “Não consigo. Juro pela minha saúde que não consigo.” A enfermeira olhou para mim aturdida mas vendo-me branca e com uma data de outras mães com quem se aborrecer, deixou-me em paz.
Noutra noite mandou-me pôr soro num cotonete e limpar o nariz da criança. Eu mal dava com a cara do miúdo quanto mais com as narinas! Lá as descobri, mas eram mais pequenas que duas cabeças de alfinete. O cotonete assemelhava-se a um tronco de uma sequóia. Vi tudo desfocado e sentei-me na borda da cama. Vieram-me as lágrimas aos olhos e pensei “Eu quero a minha mãe“.
Já em casa, o verdadeiro horror aconteceu. O Francisco sem conseguir fazer o seu cocó e o Pedro a tentar ensinar-me a estimulá-lo com um tubinho de Bebégel. Desta vez eu não ia desmaindo. Eu ia mesmo morrendo.
Só de o ver a aproximar-se do rabo do miúdo com um tubo, fiquei com a tensão baixa. Quando o vi a introduzi-lo, deitei-me na cama e trouxeram-me um copo de água com açúcar.
O Pedro, nessa semana, obrigou-me a assistir. Ludibriei-o. Fingi estar super determinada a aprender e disse : “Avança“. Depois entortei os olhos desfocando o cenário, enquanto ia lançando frases como “ah, realmente não é assim tão difícil” ou “isso alivia-o tanto, que bom”, dando inclusive ligeiros gritinhos. Isto sem ver nada.
Até que chega o dia em que o Pedro me obriga a ser eu. E ele é, digamos, assertivo. Não tive escapatória. A tremer agarro no tubinho. Olho para aquele rabo minúsculo, aquele esfíncter inocente, clamando piedade.
Chorei. O Pedro só me dizia impaciente ” Ouve, o teu filho tem cólicas, está a sofrer, precisa de ti“”. E aí chorei como se não houvesse amanhã.
E quando o Pedro se ausentou uma semana inteira para Cabo Verde, o meu mundo desabou. Numa madrugada com o Francisco e o seu cocó entalado, tomo um Xanax de 0.5, agarro no famigerado tubinho cortado do Bebégel e aproximo-me.
O Francisco olha para mim. Eu olho para ele. Encaro a fralda, retiro-lha e eis que surge um Rabo Desamparado.
O Bebégel assemelha-se a um míssel, tenho a certeza que já vi torpedos menos ameaçadores.
Olho para o rabo e parece-me um anjo em forma de cu.
Chorei, ele chorava, até acho que o gato estava com um ar triste (a Nina dorme na minha cama).
Desta vez não chamei pela minha mãe. Agarrei numa mochila, no saco dele e fiz-me à ponte Vasco da Gama. (sim Pedro, é verdade! Guess what, não estavas aqui para me impedires!)
Posso ser a pior mãe do mundo, mas felizmente tenho a melhor.
Excelente. Já tinha saudades. Dar banho também deve ter sido uma coisa esperta…ou ainda não!
Voltou! yes!
Então? A criança defecou?
Mulher, tua actualiza esta cena, não podes escrever 2 posts por ano!
Concordo com a Poisoned Apple… tu não nos contas nada!!!
Sim, não podes ficar tanto tempo sem dizer nada.
Como sempre (sendo "sempre", nos últimos 12 meses, cerca de… quatro vezes???) um must!
Não deixes de nos dar notícias, porque a malta quer saber da Salsicha e do Salsichinha, com o piadão que são as tuas «Crónicas da Maternidade».
Sei bem o que é esse horror, a minha mais velha só por volta do ano de idade começou a normalizar, nessa secção… mas a "coisa" é de tal forma que na última crise que teve, em Agosto (atenção, que a criatura acabou de fazer 19 anos) fomos parar às urgências dos Lusíadas e a médica até desconfiou de uma crise renal… afinal, bastava ter-lhe dado um bébégel (ou o equivalente para adulto – que tb há, mas não me lembro do nome) que ela agora já pode bem auto-medicar-se 🙂
com que entao o baby já nasceu!!! queremos mais novidades! 🙂 parabéns e doses imensas de coragem e paciencia! beijinhos
Pobre prima e priminho… Felizmente neste momento o miúdo já deve estar mais que resolvido com os foguetões!