Hoje o Francisco faz 3 anos. E agora compreendo aqueles comentários absurdos dos adultos, quando olhavam para nós, crianças, e diziam “ai é assim que vemos como o tempo passsa!“. Pois é. Eu diria mais, diria que o mundo está perdido, que o universo faz pouco sentido, que os buracos negros existem e isto é tudo muito confuso. E para culminar, há uns tempos dei uma ordem ao Francisco e ele respondeu-me “vou pensar no teu caso“. A sério que percebo melhor a termo-dinâmica gravitacional, que o meu filho, que nasceu praticamente ontem, responder-me como se fosse gente.
Mas este post não é sobre ele. Não, para variar, é sobre mim.
Há 3 anos atrás, eu estava o maior farrapo físico possível de que há memória. Disforme, com uma cesariana que correu bem, mas uma epidural que correu mal e me fez ficar pouco melhor que um protozoário. Se me tivessem pedido para levantar um braço e tossir, ou girar a cabeça e deitar a língua de fora, eu pediria clemência ou a injecção letal.
Estava tão inchada que, para coçar o nariz, tive que pedir ajuda a uma auxiliar. Quando tentava coçar a ponta do nariz com o dedo, toda a minha mão abarcava a cara e revolvia-me o cabelo até à nuca.
Era oficial, eu tinha a mão de um orangotango macho, e realmente eu não faço ideia como é que os grandes primatas coçam partes pequenas…..enfim, coisas simples, que damos por garantidas. Agora quando tenho comichão no nariz, saboreio cada coçadela delicada com o dedo indicador, suave e elegantemente, tentando esquecer o barril humano que fui.
E é por falar nesse momento de decrepitude física, que hoje quero contar outra história.
Começa assim:
O meu marido para mim, com ar sério (o que indica sempre duas coisas, ou está mesmo a falar a sério, ou está a gozar o prato) (o que para mim constitui sempre uma charada divertidíssima) :
Ele: “Tu realmente, no espaço de poucas horas, consegues dizer as coisas mais diversificadas e acreditar piamente nelas.“
Eu: “Como assim?”
Ele: “Ontem, quando te vias ao espelho de manhã, em cuecas, olhaste para o rabo e disseste “ui, que categoria!“
“Depois, ao fim da tarde, quando foste correr uns metros e chegaste a casa, voltaste a examinar o rabo ao espelho e disseste “ó Meu Deus, estou a a ficar sem rabo, estou a perder peso e a ficar sem rabo, não pode ser!!” “
E depois, pediste-me para te tirar uma foto de frente e de trás para mandar para as amigas da corrida, e só te ouvi gritar: “Ó MEU DEUS, Ó MEU DEUS, QUE LOUCURA, QUE CU GIGANTE É ESTE? TENHO UM CU DE OBESA MÓRBIDA, MAS O QUE É QUE ISTO?!!!”
Fiquei caladita, porque me recordava do dia anterior e do que tinha dito, mas não tinha a noção que as coisas cronologicamente enunciadas daquela maneira, soava a psicopatia de grau moderado.
“Tu adoras esta roleta-russa de emoções não adoras?”– perguntei eu, com um ar esperançado.
Ele continuou a dissecar o seu salmão. Não disse nada.
“Nunca saber o que se espera, nada é rotina! É espectacular, não é?! Uma rapariga honesta, do qual tudo se pode esperar, que sorte!” – continuei ansiosa, sentindo claramente a libertação de hormonas no sangue pelas glândulas supra-renais.
Ele (sério, super sexy): “Sim, gosto. E é por isso que vamos ficar juntos até ao resto da vida.” E sorriu.
Que delícia, gostarem de nós pelo que somos, sem termos o stress de tentar esconder defeitos e disfarçar as pulsões sádicas. Leitores, sejam sempre vocês mesmos, mas se forem raparigas, usem sempre cinta no 1.º encontro.