Ontem vi um casal de velhotes amorosos no metro.
Se há coisa que eu mais adoro neste mundo, para além de bébés e cães é de velhos. Sou capaz de ficar uma eternidade a olhar embevecida para esses seres misteriosos que, acho, mereciam todas as honras terrenas, mais que não seja porque, na sua maioria, exercem a actividade mais linda do mundo que é a de serem avós.
Bem, ontem, vinha emaranhada nestes pensamentos delico-doces, cheia de ternura por esse casal que, mal se aguentando em pé, se apoiavam mutuamente um no outro, mas de mãozita dada e com uma atenção desvelada um para com o outro.
Eis quando senão chegam ao acesso para sair, e se largam imediatamente, indo cada um para o seu canal de saída, a passo militar e ar decidido. O velho saca do passe e abre a porta dele.
Entretanto a velhota olha para ele muito sabida e fica à espera. “De quê?” – pensei eu, resposta que logo obteria. À espera que ele passasse o seu passe pela canal dela.
Como estas passagens funcionam por sensores de movimento, o velhote teve tempo de abrir o dele, o dela, e de sairem cada um pela sua portinhola,que imediatamente se voltou a fechar atrás deles.
E lá foram eles, com um ar muito lampeiro, (cheirando-me que não era a primeira vez que incorriam em tal infracção), voltando a assumir segundos depois o ar de avós da santa terra, ansiando com as lágrimas nos olhos pela visita dos netinhos na Consoada, enquanto afagam o “Farrusco”, sua única companhia nas serranias transmontanas.
Eu, pasmada, fiquei a pensar que, realmente, nunca me tinha lembrado daquilo, pois sempre que não tenho título válido para sair, colo-me literalmente a algum ser humano mais compreensivo e apanho com as portas laterais uma em cada nalga, ao mesmo tempo que a minha espinha dorsal é violentamente lançada para a frente, a cabeça para trás, o pescoço para o lado, esforçando-me sempre para manter um ar saudável, (esboçando até, por vezes, um leve sorriso como quem diz “até gosto, escusam de se estar a rir”)
enfim, um espectáculo triste de se assistir.
Nesse dia aprendi que a idade é mesmo um posto (para além claro, dos elevados ensinamentos técnicos)! Provavelmente são incontinentes. Mas o dinheiro que poupam nos títulos gastam nas fraldas. Parece-me uma troca justa.
Eu bem sei que poso estragar tudo por dizer estas verdades. Bem sei que devia estar caladinho. Já disse que estou bastante impressionado. És uma mulher 10 estrelas. És fenomenal e orbital. Mas o que eu preciso e sempre precisei é de afecto, carinho, abraços, beijinhos. Porque não entendes isso? Eu sei que tens medo de te magoar, mas não tenhas. Vem ao meu encontro. Sê minha amiga. Para mim é um tormento oscilar entre o ser e não ser. Já disseste que eu tenho que ser egoista na maneira do querer. Mas eu não consigo. Sempre para alguém! Sempre amor!
P.S.: Quando estava a arranjar o guia de corrente, não sei porquê foi andando com o sintonizador do rádio até parar Na RR. Curioso. muito curioso. Normalmente ouço Oxigénio ou Marginal. RR muito bom mesmo!
Delicio-me com o teu blog. DE-LI-CI-O-ME.
Parabéns. E obrigada. Fazes-me rir tanto tanto tanto.