CHÉQUIA: PARTE II

Continuação da Chéquia:

Depois de nos termos apercebido que o GPS-MARAVILHA nos presenteou com o caminho com MENOR NÚMERO de quilómetros mas, ao mesmo tempo, caminho em que levamos mais do DOBRO DO TEMPO –  num país que me pareceu, no mínimo, aterrorizante, e irmos por trilhos secundários supostamente para abreviar a viagem,

deixei de ter fé na Inteligência Artificial. A sério, defequei nisso tudo, o meu marido que peça o divórcio (maior acérrimo dessa trampa), quero lá saber, exijo mapas, ponto final.

Atravessámos assim a Eslováquia, a uns alucinantes 60km/h, em estradas de cabras, com veados a lançarem-se elegantemente de uma berma para a outra, tipo Companhia Nacional de Bailado. Fizemos contas: se uma reles mossa custava €800, passar a ferro um veado daqueles devia dar uns €7.200, mais a multa  adicional da polícia que nos proíbe de atropelarmos animais (?! –  normativo legal desnecessário, não…tipo: acidentes,já ouviram falar? Eu lá quero matar o bambi, manquem-se).

Ou seja, se aviássemos um desses  animais suicidas, teríamos não só que chorar as mossas do seguro, como desenvencilhar-nos do cadáver antes que chegassem as autoridades – que, aparentemente, pululam por todas as estradas secundárias daquele país, não me perguntem porquê (talvez porque efectivamente o filme de terror Hostel tem toda a razão de ser).

Caraças, por que motivo não fizemos o seguro extra…que idiotas…se o arrependimento matasse, ficávamos logo ali os 2 esticados.

A minha mãe nem se apercebeu que tínhamos ido parar à Eslováquia, e que não estávamos propriamente numa estável auto-estrada Viena-Praga a 160km/h. (mas realmente estranhou termos demorado 4h45, em vez das supostas 2h00 de viagem).

Na realidade, eu e o meu pai disfarçámos de forma exímia. Via pelo retrovisor que ele tinha o rosto crispado, e de vez em quando ficava com os olhos marejados – quando nos desviámos por milésimos de segundo de mais um sensato veado atirar-se para o outro lado da estrada.

 É oficial, o animal mais estúpido do mundo é a minha gata Nina, e em honroso segundo lugar, TODOS os  veados da Eslováquia (Ao que consta os da Chéquia são bem mais evoluídos).

O meu irmão e a desgraçada da minha cunhada, grávida de 40 semanas e 2 dias, ainda nos aguardavam, exauridos emocionalmente (lembrem-se que tínhamos perdido o voo das 7h da manhã, sendo que chegámos a este simpático país às 5h30 da manhã do dia seguinte!).

Chegámos mortos de vergonha, mortos de fome e mortos de medo das multas, porque o meu pai de vez em quando perdia a cabeça e acelerava até aos 70km (fiou-se nas margens de tolerância. Deu merda, claro. Recebeu as multas em Março).

Eu fiquei em choque com o frio, com o facto da minha cunhada ser daquelas grávidas que se saracoteiam escada acima escada abaixo, sem arfar uma única vez. E eu ainda não tinha visto nada. Mas quando digo nada, é mesmo nada.

Visitámos o museu dos sapatos, e ao fim de 2h30 juro que tive que me sentar. Ela lá cirandava alegremente, a mostrar botas dos cossacos e sapatilhas do Homem das Neves.

Bem, a estoica Erika esteve grávida até às 42 semanas e 2 dias. Até que, já com 2 voos desmarcados, e o terceiro iminente, eu e a minha mãe entreolhámo-nos e lançámo- nos aos tornozelos inchados dela e pedimos-lhes pelo AMOR DE DEUS E JESUS CRISTO, para induzir o parto.

Tive sorte porque ela é católica e comoveu-se, é que a República Checa é o 5.º país do MUNDO com maior número de ateus!

Uma indução de 2 dias. Credo. Acho que os nasciturnos  pressentem que é um país gélido e agarram-se às paredes do útero. E assim nasceu a tão esperada bebé!! Linda, olhos azuis deliciosos (recordo que o meu irmão é um estranho misto de argelino com mauritano, nada contra, gente honesta).

Claro que o nome gerou discórdia. O meu irmão sempre sonhou ter uma Leonor (adoro betos do gueto). Problema: Leonor é a maior marca de detergentes da roupa na Chéquia! Ahaha,  o que eu me desconchavei a rir quando soube de semelhante coisa.

Após mediação familiar, tratados de paz e idas ao notário, ambos concordaram em chamar-lhe Isabella. Justíssimo.

Eu fico é em choque quando descubro que na Chéquia os bebés têm unicamente o nome do pai! Se fosse eu a grávida tuga casada com um checo…fugia logo com o bebé nos braços, placenta pelas pernas abaixo, e ia a correr a sete pés para o consulado de Portugal.  

Horas depois beijocámos a Isabella Alexandre toda, e fomos a correr para a Áustria pela auto-estrada certa. O carro  estava impecável, entrámos no avião a horas.

E aí…O HORROR.

Vi um vídeo que a minha mãe tinha recebido pelo WhatsApp e NÃO TINHA REPARADO (simplesmente o nascimento da neta, nada digno de nota).

Então é assim: o chanfrado do meu irmão filmou o PARTO TODO; nós  vimos tudo! (logo eu que tenho horror a vaginas escancaradas como sabem), intraduzível: um cenário dantesco de sangue no chão, cabeça felpuda a emergir e gritos, imensos gritos. Para terminar em beleza, a médica fala com o meu irmão em checo, ele fica todo contente, põe o telemóvel sabe Deus onde, coloca-se defronte da desgraçada da grávida/puérpera, puxa a Isabella pelos ombros e SACA-A DA VAGINA DA MÃE!! COM AS PRÓPRIAS MÃOS!

Liguei em pânico à Erika e avisei-a que havia um vídeo com tudo à mostra! Ela, ser humano adorável, gentil, bondoso, respondeu calmamente “no problem”.

Estamos em Agosto e ainda tenho pesadelos. O meu pai não fala sobre o sucedido, ficou contemplativo (mecanismo de negação?).  Aposto que não volta a engravidar a minha mãe.

Partilha-me toda, eu gosto

2 comentários em “CHÉQUIA: PARTE II

  1. as saudades que eu j´tinha disto… sim, só percebi agora que há posts novos no blog, pensei que tivesse desistido. Vou ler tudo hoje, até ter uma overdose de riso! Este confinamento está a deixar-me maluquinha ! Obrigada, Susana!

  2. Eu é que agradeço o interesse Eduarda! No novo site/blogue o que quiser 😉

    Depois da overdose, volte! Periocidade garantida

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