Recentemente fui a um EP (não é dos piores, ainda assim traz-me más recordações porque em 2009 caí lá de umas escadas abaixo, na hora das visitas. Nunca vi tanto familiar de delinquentes em gáudio numa penitenciária.
Foi uma reunião absolutamente extenuante. Como, inacreditavelmente, não havia gabinetes vagos para todos (credo – os advogados fazem tudo para sair de casa, face ao dever cívico de confinamento); tive que o atender no refeitório, rodeada pela frente e nas laterais por painéis de acrílicos vidrosos ou que raio de polímeros eram aqueles, mais de 50 todos interligados.
Quem me conhece, sabe que tenho a graciosidade de um elefante numa loja de porcelanas (loja essa com área total não superior a 25 m2). Era véspera do julgamento. Aquele cliente é daqueles muito burros que, per si, já não percebem nada do que eu digo,
Agora imaginem, com as máscaras pelo meio, eu irritadíssima com aquela anta, a tentar fazer-me entender através do acrílico, já aos gritos QUANTAS GRAMAS FUMOU DA BOLOTA QUE ESTAVA DENTRO DA JARRA? DA JARRA! NÃO É DA BOLSA DA NIKE! É A DA J-A- R- R- A !!!!;
Ora, sempre dentro do espírito da tragicidade, esbracejo para desenhar uma jarra no ar, e PIMBA, grande paulada que dou no acrílico lateral, os outros 49 a estremecerem de uma maneira que parecia um tremor de terra. (Vergonha, os colegas a olhar mas eu recompus o porte e mandei-lhes um sorriso toda boneca).
Ao sair do refeitório, vi uma colega branca. Caucasiana, sim, mas literalmente branca, com a mão a aquietar-lhe o peito, como quem se sente mal. Fiquei imediatamente alerta. F… mil cuidados sanitários, sequestrada por acrílicos ruidosos, luvas nas orelhas, e vou adoecer agora, em Março de 2021, com esta velha?!
Depois vi dois guardas prisionais a rirem-se, deleitados. Meti-me logo na conversa, não fosse o tema esfumar-se e eu sair do Estabelecimento Prisional exactamente como entrei: entediada de morte.
– Venha cá Dra., venha cá! A sua colega não acredita no Amor!
Mirei-a de soslaio. Não me surpreende, eu sou uma pessoa justa, que tenta perscrutar o interior de um ser humano, mas se a pessoa é feia, lamento mas é feia. Não posso, em honesta consciência, dizer que é bonita. Não me choca que o amor lhe tenha passado ao lado.
– Contem-me tudo e não me escondam nada – ajustei os elásticos da máscara nas orelhas para ouvir melhor,
– Dra, a sua colega não acredita que os nossos presos sentem-se sós e praticam o amor!
– Ai pois não sei, parece impossível, …mas se ele até tem mulher! – insistia ela;
AHAHAHAH Risada em uníssono. Eu não perco uma boa oportunidade para chocar:
– Colega, já tive uma cliente (ah saudosa e adorável traveca, falecida em 2018), que amava sob todas as formas 8 ou 9 estrangeiros, antes do almoço,
– AHHH! QUE HOR..
– E, ao final do dia, ainda se punha toda cheirosa, a aguardar as brigadas do trabalho ! (dezenas de reclusos a trabalhar na agricultura, sedentos de sexo pós-hortícola)
Quer dizer… quase 70 anos e a mulher não sabe disto?!!
Deve ser da área do direito fiscal e/ou empresarial. Eu sempre soube que estudar estruturas societárias era arruinar a minha parca sanidade mental. Meu rico submundo carcerário, priceless.
Nada como finalizar um artigo a visualizar um carrocel homossexual.
Vivo para vos agradar.