Sabem aqueles episódios que desejamos nunca ter vivenciado? Aquelas coisas que nos arrependemos para sempre?
Um dia estava a ver “Crime She Wrote”, com a admirável Angela Lansbury. Era o meu programa preferido, e vivia uma semana inteira à espera que desse na televisão.
Não será então de estranhar que uma vez, sentada orgasmicamente a ver a série, tenha enxotado o meu irmão quando ele se abeirou do sofá para me aborrecer.
Primeiro, e sem descolar os olhos da televisão, dei-lhe uma estalada fraquinha, garanto que não fez muito barulho.
Da segunda vez, micro-segundos mais tarde, já lhe dei um bofetão com a mão aberta.
Como se ele insistisse em importunar-me com os seus guinchinhos de menina, viro-me na direcção dele para lhe pregar uma sova de meia noite, eis quando senão
vejo o meu irmão completamente ROXO, a agarrar na garganta e a tentar respirar, função essa que, manifestamente não estava a conseguir, já que andava aos círculos pela sala, indo embater na mesa de centro antes de cair redondo no chão com um gemido já fraco.
Olho para a mesa e vejo lá um prato com uma carne de porco à alentejana. Com um raciocínio lógico brilhante, compreendo que ele está a tentar lutar com um pedação enorme de bácoro entalado na garganta!
Espojado no chão, agarro-lhe uma perna e vou a arrastá-lo até às escadas do meu prédio, até que toco a todas as campainhas do meu andar e grito por socorro.
Lá aparece uma velhota que lhe faz respiração boca a boca e lhe sacode o diafragma e o miúdo sobrevive.
Mas estava tão fraco que nem teve força de me esconjurar pelo mal-entendido.
Não tenham pena.
Estou há 19 anos a pagar pelo sucedido.
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