Um grito de revolta

Quem me conhece sabe que o meu cabelo tem vida própria. Só lhe falta ter dentes e dois olhos lá pelo meio. De resto, faz o que quer de mim, rebola-se, abespinha-se e depois faz um pequeno capacete do lado esquerdo que simpelsmente me enoja, mas é meu e vou ter que viver com isso.

Acontece que a única coisa que o semi-domina é um daqueles pentes tipo piolhos, com um cabo de aço muito fininho e que serve para fazer um risco decente em cima da cabeça.

Tendo eu ido a uma prisão que não é das mais rigorosas, levei o pente no meio de um livro. Quando a mala passou pela máquina raio-x, accionaram-se toda uma panóplia de sons agudos, luzes vermelhas e portas que se fecharam atrás de mim. Guardas armados até ao pescoço cercaram-me e obrigaram-me a abrir a mala.

Resignada, abri o livro e saquei do pente dos piolhos. Depois de um momento de descontracção, durante o qual os guardas se riram, e friso bem, RIRAM do meu pente, lá passei a mala outra vez pela máquina raio-x.

E mais uma vez a máqui a apitou louca, descontrolada, e guardas armados se posicionaram atrás de mim, evitando uma possível fuga.

– QUE MAIS TEM AÍ? – vociferou o chefe. Tremelicante, abro a minha mala e não vislumbro nada de mal.

– Nada..- asseguro, enquanto rezo baixinho para que não me abram a caixinha dos tampões maxi .

Pois é que foram mesmo directos a ela. Inspeccionaram-na, com ar intrigado, enquanto me apetecia gritar: NÃO SÃO TORPEDOS SENHORES, EU METO ISSO NO PIPI

Depois de uma breve inspeccionadela e alguns sorrisos cúmplices com os restantes colegas, o guarda devolve-me a caixa dos tampões, seguro que não foi aquilo que fez disparar a máquina. E com uma fila de 50 familiares dos presos atrás de mim, furiosos pelo tempo de espera, finalmente o denso mistério resolve-se:

– O QUE É ISTO? -pergunta ele enquanto segura num objecto comprido cor de rosa

– É um baton- esclarece, solícito, outro guarda mais novo.
– Ah, pois é, é um baton – confirma o chefe. – vá, passe lá

E devolvem-me o objecto supostamente letal, que de baton tem muito pouco, já que é um comprido frasco de perfume da sephora, mas enfim, o que eu queria era vir-me embora antes que as visitas me fizessem a folha.

– Desculpe, o meu pente – peço eu com os melhores modos que consigo.
E devolvem-mo rindo, mortinhos para me aconselharem Quitoso.

Tive pena daqueles pobres de espírito. Se não sabem sabem distinguir um baton de um frasco de perfume, sabe-se lá o que é que aquela gente inventa na intimidade. Ofereceram-me em tempos uma t-shirt que dizia “boys, clitoris it´s not a greek island”

Tudo isto para dizer que tenho pena daquelas esposas.

Partilha-me toda, eu gosto

24 comentários em “Um grito de revolta

  1. Chiça, estava a ver que nunca mais conseguia ler o blog de uma ponta à outra! Acho que estou apaixonado por ti. Se vires alguém com aspecto esquisito de máquina digital em punho, desconfia sempre, posso ser eu.

  2. exelente como sempre.
    o que me tu me fazes rir,mulher.
    Agora assim muito a sério,e qe tal pôr o iuris civilis de lado por uns tempos e adoptar uma editorazita pra publicar um livro… hum?
    beijinho,susana

  3. Olá Susana,

    Gosto do teu blog pelo que me faz rir (e pela afinidade profissional-não, nunca me aconteceu uma dessas nuna cadeia!). Estou a construir um, mmaresias.blogspot.com. Posso adicionar-te aos links?
    Bigada

  4. Olha, mais uma a dizer o que todos já disseram: demais, demais, demais!! Torpedos no pipi????? Nunca mais vou conseguir olhar para um tampão sem desatar à gargalhada!!!! olha que é um bom nome para um blog: “senhores, isso não são torpedos, eu meto isso no meu pipi”!! LOLOLOLOLOLOLOLOLOLOL!!!
    E subscrevo-te, tenho pena das mulherer desses pseudo-guardas….

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